A porta verde e suas histórias…
– Não sei se gosto mais do meu irmão ou da minha mulher. É aquele tipo de constatação ridícula, profana, que não vai mudar nada, né não?
Ele, lourinho, olhou para a cara dela. Absorta em pensamentos indecifráveis, nem prestou atenção. A chuva lá fora.
– Ele está falando com você, Vitória.
– Oi.
Ela acordou do sonho dourado e olhou para o amigo.
– Era só um papo sobre essa loucura de amar.
– Pra mim amor é um cabide em que me penduro. Nesse caso, sou um casaco. Quando me envolvo com ele, o cubro, faço dele um abrigo. E quando me retiro dele, fecho a porta do armário, pra não o ver mais.
Risadas duplas. O lourinho sem piscar, chegou mais perto. A chuva lá fora.
– Essas suas constatações são mais ridículas que as minhas. Campeã.
– Superação também é minha palavra.
O lourinho resolveu passar o braço por sua cintura. Ela olhou de canto pra ele. Tão bonito o rapaz. Camiseta suja e meio rasgada, aquele cabelo grunge, parecia um bastardo de algum Nirvana. Não do Colbain, que era estimar demais a magrelice dele. Se bem que não era tão magrelo…Suspiros e uma mordida de excitação no lábio inferior. O amigo atento:
– Bom, vejo que vou sobrar nesse amor cotidiano e tenso de vocês.
– Mas tá chovendo ainda.
– Vitória, minha querida, sei bem o que é uma chuva dessas para um casal em ebulição.
Ele abriu a porta verde.
– Volta amanhã?
O lourinho entregou os cigarros e um guarda-chuva bicolor.
– Volto e trago o seu livro, como combinado.
Três segundos de porta fechada. Nada mais, nada menos. O lourinho já estava sem a camisa suja e meio rasgada. Vitória não tinha mais blusa. Calças abertas. A chuva lá fora.
– Você não pretende me amar então?
Vitória revirou dois olhos, de vontade e de sarcasmo.
– Aproveita enquanto está no armário. Qualquer dia posso te colocar na geladeira.
O lourinho, apesar do medo e da vontade de mandá-la se foder, resolveu fazer isso ele mesmo. Mas não sabia que para ela era difícil dizer o quanto queria amá-lo. Os pensamentos pecaminosos e nada mais. 11 minutos de puro e devasso prazer. E a chuva lá fora…
Continua.