Sonhar.
Sonhei.
Sonhei como costumo sonhar. Tonalidades previamente expostas, enquanto sobem créditos imaginários com os nomes de pessoas próximas ou rostos que, provavelmente, nunca colocarei os olhos abertos. Imagino que esses desconhecidos sejam pessoas nas quais, distraída, esbarrei ao longo da vida. É uma ideia e tanto. Pessoas em que nunca reparei, mas meu subconsciente guardou com carinho, para fazer figuração em sonhos que me fazem acordar perturbada, tamanha engenhosidade no REM.
Sonhei com uma vila iluminada, totalmente arborizada, com referências de uma década parisiense que não sei bem ao certo se dos anos 20, 30 ou 40 – talvez pelo simples fato de eu nunca ter estudado a arquitetura parisiense. Morava em um dos sobrados com minhas duas amigas, xarás uma da outra, e nossa casa era repleta de verde e luz. As flores penduradas displicentemente pelas janelas, as poltronas confortáveis, as canecas para um chá que não existia e muitos outros detalhes, que somados representam uma casa, literalmente, dos sonhos, com companhias tão agradáveis quanto o cheiro de croissant que sentíamos pela janela do vizinho.
Sonhei com aquele campo repleto de tulipas lilases, em um abril desses enlouquecedores, em que o caminhar pelas flores favoritas era mais penoso do que qualquer outra coisa. Ali, com os cabelos ao vento, pássaros me seguiam com olhares preocupados, uma lágrima após a outra, até o fardo cansar as costelas. Eu, caída, amassando de forma rude toda a minha envergadura em flores, chorava. Sentia muito e não sentia nada. Num complexo sonho de terror psicológico em que eu precisava acordar, mas não queria.
Sonhei um sonho colorido, cheio de cartazes bonitos de filmes maravilhosos na parede. Os cabelos dele passavam entre meus dedos, eu ouvia sua voz, muitos planos e um desentendimento resolvido com sorrisos. Um sonho comprido, cheio de toques e sussurros. Quando fui abraçá-lo estava sozinha em uma sala vazia, ele havia sumido. O colorido perdeu os tons e me mantive sentada na mesma posição pelo resto de uma história inacabada.
Sonhei que o pouco me bastaria e que tudo cheirava a flor. Ledo engano ao acordar.