Quando a véspera precede o amor ela passa em branco.
Vésperas são difíceis para mim. Sempre foram. Espero que isso não seja mais um dos muitos vícios de espírito, que parecem me acompanhar, grudados aos tornozelos como lodo nas pedras mais molhadas.
Vésperas são impossíveis. A ansiedade que vem antes de cada realização, atinge seu ápice algoz no dia anterior ao grande momento.
As vésperas acabam com o preparo, com a espera, com a sensação de que finalmente algo vai acontecer. A véspera marca mais do que o grande dia em si, pois quando tudo passa e a mão decide não derreter – mesmo após todo o suor escorrido entre os dedos, axilas, seios e onde mais as glândulas se rebelarem – sobra o alívio, aquele “ufa, ainda bem que acabou”.
Hoje chove. Escuto The Mamas and The Papas, decorrência de Elena, belo filme que assisti enquanto segurava uma véspera pelos cabelos. Tento dizer: não me corroa, maldita, você é apenas um espectro ruim das minhas expectativas. Ela, sempre danada e atenta, gosta de me provocar. Revira meu estômago ao menor sinal de relaxamento. E assim fico, como se o gelo do Alasca estivesse concentrado em minhas vísceras.
Volto à música. Escuto “Monday, Monday”, enquanto espero o esmalte secar, e aí me recordo de que tive a brilhante ideia de passa-lo antes de lavar a louça em cima da pia. O que me lembra de que moro sozinha há um ano e dois meses, e aí também lembro do tamanho das minhas bochechas em plena Praça do Japão, em uma véspera. Eu queria sorrir, mas o medo não permitia.
Véspera de ficar sozinha no frio, de desistir de uma vida a qual eu estava habituada, de começar uma trajetória com a qual sempre sonhei. Nessa véspera chorei muito, enquanto o carro com meus pais e irmã ia embora, pela rua deserta e cinza. Eu nunca quis tanto correr. Nunca fiquei tão estática.
Essa véspera me recordou outra. Lembrei que estava muito infeliz no dia anterior ao 24 de novembro de 2012. Tinha passado por maus bocados e estava cansada, realmente esgotada da vida que estava levando, do modo como deixei meus dias desandarem.
Eu não sabia que era véspera de algo muito importante, portanto não tive o sofrimento da expectativa.
No dia seguinte, um sábado bonito, meio nublado, como os dias de que mais gosto, conheci uma pessoa que mudou minha trajetória, me colocou em eixos bonitos, com flores imaginárias envolvendo meus cabelos, que me fez e faz sorrir todos os dias e congela minha barriga nos olhares mais longos.
Já faz um ano. O melhor ano. Essa história começou tão bonita, que nem precisei sofrer por antecedência. Ele apenas surgiu, com sua simplicidade, honestidade e carinho, e com o tempo me fez feliz. Hoje é o meu amor.
Pois é. O amor não avisa mesmo. Chega, invade, fica, sem anunciar, muito menos pedir permissão.
Não tem nada melhor do que não saber quando será a próxima véspera que vai balançar sua vida.