Tinha me comprometido a dormir cedo. Mas sou uma pessoa das madrugadas. Não sei fechar os olhos cansados e dormir, simplesmente. Sendo assim, após as excelentes madrugadas alcoólicas e divertidas que tive durante a semana, resolvi ficar em casa. Munida de pizza, filmes sem noção e uma vodca maluca, fiz o ritual banho quentinho, roupa caseira – shorts do meu ex-boyfriend, blusinha cinza e pés descalços – e fui pra sala de TV.
Terminei o segundo filme e vi que tinha algo embaixo das almofadas do outro sofá. Olha só, era o livro que estava nos capítulos finais e que eu só me lembrava de ler quando não sabia onde estava. Fui buscar uma cerveja – porque não sou mesmo de vodca – e quando deitei, no aconchego da minha escolhida solidão: bléééém. Puta que pariu. Odeio campainha. E sem interfonar ainda? Arthur ou minha mãe?
Oi, vizinho. Festinha no seu apartamento? Uma hora dessas? Ah, ainda são dez pra uma. Sei. Tá. Vou me vestir e já apareço lá. Confesso que concordei comparecer à festinha por causa do amigo do vizinho, que veio junto com ele me chamar. Só mais tarde descobri que além de ter um cabelo lindamente bagunçável, uma camisa xadrez legal e um sorriso de sou-paulista-na-sua-terra, era veterinário formado e fazia partos de animais de grande porte. Óun. Portanto, sem tempo e sem saco para arrumações, coloquei um vestidinho, joguei um cardigã por cima e fui pra tal festa.
Cinco Stellas depois, com Kooks de background, comecei a observar o pessoal. Tinha umas 25 pessoas lá, meninas bonitas, caras bonitos e um único casal de pegação. A menina tinha cabelo de crepom e já pensei, preconceituosamente, tinha que ser ruiva! E o cara usava umas roupas que me lembravam o meu…Opa! Peraí! Não pode ser? Era o filho da puta do meu ex-boyfriend-o-mesmo-do-shorts com aquela filha da puta-vou-lá-saber-seu-nome?
Não precisei de cena alguma. Ele parou de beijar a garota e foi buscar cerveja. Quando me viu, tropeçou no sofá, alguns riram, eu só consegui sorrir para o veterinário e me unir ao vizinho no Playstation. Escolhi um lugar de costas para o casalzinho 20 e joguei basquete como se fosse da NBA. No fundo, não doeu nada. Não senti perfurações de artérias, falta de ar ou aquela vontade de vomitar na cara da menina – apelidada, instantaneamente, de vadia. É só que…
– O mundo é pequeno, né não, vizinho?